"O sentimento de culpa existe. Os tratamentos, os efeitos secundários dos medicamentos, a quebra na capacidade de auto-controle... tudo isto nos muda, nos afasta do caminho que tínhamos traçado, da pessoa que queríamos ser e começamos a ser... alguém que não nos agrada.
Esta doença faz-nos perder o auto-controle. Porque passam anos e tens sempre os mesmos sintomas, porque precisas de ajuda e vês-te sozinho, não física mas emocionalmente, porque ninguém consegue compreender a nossa atitude e o que está por trás das nossas relações interpessoais, mesmo com o núcleo familiar.
Tudo é difícil, muito difícil, demasiado difícil e, mesmo que ponhas todo o teu empenho em tentar explicar, mesmo que entres no ciclo de dar justificação atrás de justificação, ao longo do tempo fazem-te sentir que estás a perder tempo.
Tu tentas mudar, colaborar, tornar a situação mais leve, mas, pouco a pouco, vais-te apercebendo que, por muita colaboração que haja da tua parte também precisas da dos outros e os outros não entendem, não compreendem.
É precisamente aí que começa o caminho da culpa, da auto-reprovação. Se não tivesses adoecido tudo seria diferente, tudo seria como antes. Sentes-te cansada porque dás tanto de ti e ninguém colabora. Tentas estudar cada atitude e pensas que, desta vez, vai ser diferente, a reacção vai ser outra. Voltas a descobrir que nada mudou.
Tu mudas, reinventas-te, tentas árduamente que os efeitos devastadores da fibromialgia não atinjam os demais e nada nem ninguém mudam ao teu redor.
Chega a altura em que perguntas a ti própria se vale a pena tanto esforço, se vale a pena tanta justificação...
Esta pode ser a grande causa do isolamento, da não comunicação, de tanta solidão.
Apesar de seres uma pessoa auto-suficiente e lutadora ninguém se adapta a ti, ninguém pergunta, ninguém questiona se está a proceder bem. De que serve tanto esforço quando não há diálogo nem perspectivas de que haja?
A realidade é que, muitos de nós, estamos preparados para lutar, para nos adaptarmos, para seguir em frente mas os que estão perto de nós acabam por ser um grande peso morto, principalmente quando argumentam com um "eu se fosse a ti...".
Que acham vocês que podem explicar a um doente, muitas vezes com décadas de sofrimento e um grande esforço de superação? Nada, absolutamente nada!
Seria necessário tempo, tempo para observarem como age, como luta e poucos são os dispostos a dar esse tempo.
Não me sinto culpada de ter uma doença, sinto-me impotente porque não me entendem.
Não preciso que me entendam.
Tudo é contraditório.
Pergunto-me uma e outra vez se a minha vida seria mais fácil vivida em solidão...
Não, não quero quebrar os laços de amor, de amor aos filhos, de amor ao companheiro de vida, de amor aos pais que mostram sempre tanta paciência.
E assim começas do zero uma enorme quantidade de vezes, dentro da doença, com uma doença que te mina as forças físicas e as forças psíquicas. Estas têm que triplicar as de qualquer comum mortal para não pôr em perigo a estabilidade que sempre tiveste.
A solução? Não existe uma única solução, para cada um será diferente.
Mas existe alguém que possa afirmar que tudo seria diferente se não tivessemos adoecido?
Temos de acabar com este sentimento de culpa e continuar a ter a certeza que, apesar das poucas forças que temos, sempre fizemos o que era correcto, o que devíamos ter feito, o que é melhor para todos.
Esta atitude não pode nunca merecer reprovação. Merece sim ser admirada, porque tem grande mérito, porque tu, apesar de tudo, és muito forte, dentro de um mundo com tantas limitações.
A todos os que nos acompanham e que aceitam as coisas como são e que não duvidam, um grande abraço de carinho e admiração.
Vocês são grandes!
Como sempre para todos os meus companheiros de caminho...
Carmen Martin"
Original em castelhano @ Fibromialgia Notícias
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