A Síndrome da Sensibilidade Química Múltipla, a Síndrome de Fadiga Crónica, a Fibromialgia e a Síndrome da Hipersensibilidade Eléctrica são doenças que aparecem cada vez com mais frequência. Relacionam-se, em maior ou menor medida, com o meio ambiente e são consideradas doenças ambientais. Afectam diferentes sistemas e aparelhos do corpo humano, gerando uma grande variedade de sintomas e aparecendo como doenças multi-sistémicas.
Embora cada uma destas doenças tenha uma sintomatologia própria, muitos dos sintomas são partilhados entre elas, podendo dar-se o caso de se padecer de mais do que uma ao mesmo tempo. Isto faz com que, às vezes, não haja uma fronteira nítida entre elas, o que também dificulta o diagnóstico.
Por outro lado, não existe uma única causa ou processo de geração destas patologias, sendo sempre multifactoriais. Quer dizer, a constituição genética de cada pessoa, o seu estilo de vida, hábitos de saúde, dieta alimentar, o seu tipo de trabalho e, principalmente, o tipo de exposição aos diferentes tóxicos ambientais, químicos ou electromagnéticos, assim como a sua duração, zona de impacto e carga emocional, são variáveis que farão parte da configuração dos sintomas e da gravidade de cada caso.
Não obstante esta variabilidade já se observaram mecanismos fisiopatogénicos comuns que muitos autores chamam de Síndrome de Sensibilização Central (SSC), com uma base maioritariamente neurológica e endócrina, razão pela qual também se consideram síndromes neuro-endócrinas, embora que, para sermos mais rigorosos, devêssemos chamar-lhes síndromes psico-neuro-endócrinas.
Esta base fisiopatogénica comum deveria ser o objecto das terapêuticas dos vários recursos utilizados. Não o fazendo, o que acontece é que se mascaram os numerosos sintomas, através da acção de vários fármacos com distintos e importantes efeitos secundários, o que pode provocar a danificação de um terreno já de si suficientemente deteriorado.
É necessário ter muito presente que, tratando-se de doenças multi-sistémicas, qualquer alteração numa parte do organismo, incide em maior ou menor medida nos outros sistemas ou no estado geral. Por isso é imprescindível que, qualquer medicamento que se utilize, garanta benefícios concretos sem acrescentar mais alterações.
O investigador americano Martin Pall já fez longos estudos sobre estas doenças. Afirma que têm mecanismos bioquímicos comuns que podem explicar a complexidade dos sintomas, o seu aparecimento e desenvolvimento, baseando-se sobretudo no chamado ciclo do óxido nítrico e peroxinitrito.
Assegura também que estas doenças começam com o impacto biológico e emocional que causam diversos factores stressantes - desde o stress psicológico à inalação de tóxicos ambientais, passando pelo excesso de radiação electromagnética ou infecções virais.
Estes factores, directa ou indirectamente, acabam por incidir em alguns dos processos bioquímicos, o que explica que uma interferência num dos processos incida sobre um outro, que por sua vez incide sobre outro e assim sucessivamente. Assim se inicia um ciclo patológico que pode manifestar-se de múltiplas formas e torna evidente uma alta hipersensibilidade.
Martin Pall acrescenta ainda que, no início deste ciclo patológico, existe a presença aumentada de citocinas pró-inflamatórias - proteínas mediadoras do nosso sistema imunitário - bem como o aparecimento de stress oxidativo. São estes então os factores iniciais deste ciclo nocivo.
Embora se tenham apenas realizado investigações específicas em relação a este tipo de doenças, existem indícios claros de que os ácidos gordos poli-insaturados ómega-3 podem ser responsáveis por um benefício significativo, dadas as propriedades que este nutriente essencial já demonstrou ter em numerosas outras investigações. As propriedades deste nutriente aproximam-se muito das requeridas pelas premissas antes mencionadas como: tem capacidade para actuar a nível psico-neuro-imuno-endócrino, inibe o aumento de citocinas pró-inflamatórias, tem capacidade anti-oxidante e, por último, não ter praticamente efeitos secundários, o que evita piorar o maltratado terreno orgânico do doente.
Na Sensibilidade Química Múltipla observam-se, entre outros aspectos, a existência de processos inflamatórios, tanto locais como neurogénicos (que tem origem nervosa). Também acontece a libertação de citocinas inflamatórias nas mucosas, exercendo uma acção sobre a actividade do sistema nervoso central.
No entanto, os níveis elevados de citocinas inflamatórias também se observam em numerosas e diferentes doenças como a doença coronária, a depressão major, a artrite ou o cancro, segundo se demonstrou, entre outros, num estudo levado a cabo em Washington, no ano de 2002. Neste estudo demonstrou-se que os ómega 3 têm uma grande capacidade anti-inflamatória e imuno-moduladora, capaz de melhorar estas doenças. Neste tipo de doentes verifica-se uma situação pró-inflamatória permanente, promovida por um excesso de ómega 6 combinado com um déficit de ómega 3, o que é típico das dietas ocidentais. Isto torna evidente a necessidade de mudar a dieta das pessoas afectadas com a finalidade de corrigir este desequilíbrio fundamental.
Dentro da complexidade etiológica (a origem da doença) e a controvérsia que envolvem uma doença como a Fibromialgia deve considerar-se o seu carácter reumático, o que faz com que compartilhe alguns elementos com outras patologias afins, tal como a artrite reumatóide. Os benefícios do ómega 3 para a artrite reumatóide já estão comprovados por diferentes investigações levadas a cabo em todo o mundo, sendo recomendado que se use combinado com a medicação. Neste contexto, num estudo realizado em Toronto, Canadá, com pacientes com dor neuropática, nos quais se incluiu um fibromiálgico, administrou-se ómega 3 às pessoas. O resultado foi que, todos os participantes sentiram uma redução da dor clinicamente significativa, com duração de um ano e meio após o tratamento, sem efeitos adversos.
Quanto à Fadiga Crónica, foi feito um estudo em 22 pessoas com esta doença, às quais se analisaram os níveis de ómega 3 no plasma sanguíneo. Comprovou-se que mostravam níveis mais baixos de ómega 3 do que as pessoas saudáveis. Também se observou que o equilíbrio entre ómega 3 e ómega 6 era deficitário, com excesso de ácido araquidónico, que é inflamatório, e de ácidos gordos saturados. Ficou comprovado que estes níveis se relacionam com a severidade da fadiga crónica, e com uma insuficiente activação das células T do sistema imunitário (responsáveis pela coordenação da resposta imune celular), de tal forma que os investigadores sugeriram que estes doentes podem responder favoravelmente ao tratamento com ómega 3.
Muitos pacientes diagnosticados com alguma destas doenças referem, antes da aparição destas ou durante a aparição, problemas como stress, ansiedade ou depressão. Isto faz com que, muitas vezes, especialmente na Fibromialgia ou na Fadiga Crónica, os médicos pensem que se tratam apenas de problemas psicossomáticos. O certo é que estes transtornos emocionais são, muitas vezes, parte de um estado pré-patológico da pessoa que, tanto pode favorecer a aparição gradual dos demais sintomas, como agravá-los.
Os ómega 3 têm um efeito directo sobre o sistema nervoso, já que fazem parte da estrutura cerebral e das membranas dos neurónios, modulando a permeabilidade das mesmas e permitindo um bom funcionamento dos neurotransmissores.
Por isso não é de estranhar que o consumo diário de ómega 3 seja recomendado pela Associação Psiquiátrica Americana para prevenir e tratar especialmente da depressão, companheira tantas vezes inseparável das pessoas com doenças de sensibilidade central.
Por José María Guillén Lladó - Psiconaturopata - licenciado em Psicologia, pós-graduado em Psicopatologia Clínica e diplomado em Naturopatia
@ Fibromialgia Melilla
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