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22 de abril de 2015

Fibromialgia em Espanha - explicada por um reumatologista


A dor possui um grande poder educativo: faz-nos melhores, mais misericordiosos, mais capazes de nos recolhermos em nós mesmos e persuade-nos de que esta vida não é um divertimento, mas um dever."

(Cesare Cantú)

O Dr. Manuel Guzmán*, reumatologista no Hospital Virgen de Las Nieves dá alguma informação sobre a fibromialgia:

A fibromialgia é uma síndrome crónica caracterizada por dor generalizada que, nalguns casos, pode ser incapacitante. É um problema importante de saúde pela sua prevalência, incidência e pelo alto índice de frequência e consumo de recursos sanitários que origina. A prevalência estimada é de, aproximadamente, 3%.

No século XVIII já havia descrições da síndrome na literatura francesa, embora com denominações distintas (fibrosite, entre outras).

No ano de 1990, Wolfe estabelece os critérios de diagnóstico e classificação reconhecidos pela OMS (Organização Mundial de Saúde) em 1992, tipificando-se no manual de Classificação Internacional de Doenças (CIE-10) com o código M79.0.

Trata-se de uma síndrome complexa, de origem desconhecida e evolução variável, que, com frequência, aparece associada a outras patologias; para a qual não existem critérios comuns sobre o diagnóstico e o tratamento, o que pode originar diferenças na abordagem a estes pacientes.

Em face a esta problemática, um Grupo de Trabalho, coordenado pela "Unidad de Prestaciones de la Subdirección General de Programas y Servicios Sanitarios", elaborou um documento em que se recolhem directrizes acerca do diagnóstico e tratamento da Fibromialgia e onde se assinala o seu impacto vital, familiar, sanitário e laboral, com a finalidade de que a maioria dos profissionais de saúde sigam uma pauta de actuação comum.

Na Comunidade Autónoma da Andaluzia isto contempla-se dentro do Mapa de Processos Assistenciais, onde estão perfeitamente estabelecidos os circuitos de actuação desde a atenção primária até à especializada. Na elaboração destes protocolos intervieram profissionais, ouvidos que foram os pedidos dos doentes e das associações mais representativas.

O diagnóstico da doença estabelece-se baseado num bom interrogatório durante o qual se recolhe como sintoma a dor generalizada, que se agrava com o stress, o frio e a actividade física. A forma como aparece e se desenvolve, está relacionada com circunstâncias múltiplas (traumatismos, acidentes, infecções, etc.). Outros sintomas, como o cansaço físico, a rigidez matinal, alterações no sono, parestesias (formigueiros) nas mãos e nos pés, dores de cabeça, falta de equilíbrio e alterações de concentração e memória, fazem parte do panorama da fibromialgia.
O médico, fazendo a exploração física, detecta a dor selectiva exercendo pressão sobre determinados pontos que se conhecem por 'pontos gatilho'.
É importante ressalvar que não existe nenhuma prova que seja decisiva para o diagnóstico. Radiografias, TAC (tomografia axial computorizada), Ressonância Magnética, apenas servem para descartar outras doenças com sintomas semelhantes; por isso, um médico bem  informado, apenas necessita de fazer uma entrevista bem dirigida e a exploração dos pontos gatilho para chegar ao diagnóstico correcto.

A fibromialgia não encurta a esperança de vida dos pacientes mas pode afectar de forma importante a sua capacidade funcional, limitando as actividades da vida diária, embora não seja progressiva e irrecuperável para todos os pacientes.
Os mais jovens, e com sintomas menos severos no início, têm uma maior probabilidade de recuperação a partir dos dois anos de evolução. Apenas 5% apresentam uma remissão completa dos sintomas aos 3 anos de evolução e 20% dos pacientes consegue uma melhoria importante.

A avaliação da incapacidade funcional na fibromialgia é controversa.
Nos estudos levados a cabo até ao momento, não se encontrou uma ferramenta que permita avaliar objectivamente a intensidade das consequências que a doença provoca. Por outro lado, a ausência de provas complementares que indiquem, de forma objectiva, a severidade da doença, determina que haja imprecisão no momento de estabelecer o grau de incapacidade e em que medida afecta a qualidade de vida.

Habitualmente usam-se questionários já validados para medir a incapacidade em doenças músculo-esqueléticas.
Em Espanha, o estudo EPISER (estudo da prevalência de doenças reumáticas na população espanhola) mediu a capacidade funcional aplicando os ditos questionários e chegou à conclusão que os pacientes afectados pela fibromialgia possuem menos capacidade física, passam mais dias de cama e perdem mais dias de trabalho do que as pessoas sãs usadas para controle no estudo.
A idade média, o facto de realizar trabalhos pesados, acontecimentos stressantes ou receber uma pensão de invalidez antes de sentirem sintomas de fibromialgia, são factores de risco acrescido. Uma actividade física adequada poderia actuar como factor de protecção.
Num estudo levado a cabo por Wolfe em 1997, onde se avaliaram a capacidade funcional e laboral dos pacientes com fibromialgia, a maioria destes (64,3%) referiam ser capazes de trabalhar todos ou a maior parte dos dias, e 20% dos pacientes indicava não conseguir trabalhar nunca ou em apenas alguns dias.


Impacto laboral

A fibromialgia tem uma prevalência elevada e é mais frequente durante as décadas da idade produtiva, pelo que as repercussões a nível laboral podem ser importantes. A situação laboral das pessoas com fibromialgia varia de país para país, dependendo do facto de ser ou não reconhecida como doença incapacitante.

Em Espanha não se dispõe de informação específica para a fibromialgia mas pode-se dizer que:
  • A lombalgia e a fibromialgia são as duas patologias mais frequentes em pessoas com incapacidade temporária devida a doença reumática.
  • Entre os pacientes seguidos nas consultas de reumatologia, 6,7% são pensionistas por causa disto e 78,5% dos pacientes com trabalho remunerado já esteve com baixa por este motivo.
  • Existem outros factores que podem predispor ou estão associados e que podem determinar o grau de incapacidade. Desconhece-se a percentagem de pacientes que chegam a uma situação de incapacidade permanente.

Impacto sobre o sistema de saúde

Atribui-se aos pacientes de fibromialgia uma média de 10 visitas por ano ao seu médico e um consumo de 2,7 fármacos relacionados com a doença em cada período de 6 meses. Estes pacientes têm ainda uma maior probabilidade de serem sujeitos a intervenções cirúrgicas.
O estudo EPISER, acima mencionado, situa a fibromialgia como um dos processos crónicos associados a maior consumo de tratamentos farmacológicos.
O 'London Fibromyalgia Epidemiology Study', realizado na população canadense para avaliar a prevalência da fibromialgia, estima que o consumo de fármacos e a utilização dos serviços de saúde, no dobro dos das pessoas sãs.

É ainda necessária uma menção especial do ponto de vista sócio-laboral, já que manter uma actividade laboral compatível com a evolução da fibromialgia é de grande ajuda para o paciente durante o decorrer do processo. Conservar uma integração máxima destes pacientes nas empresas, requer uma estreita colaboração dos serviços de Segurança Social, os de Saúde no Trabalho e Recursos Humanos, para evitar que uma falta de comunicação resulte num inadequado e prematuro afastamento do trabalho. Isto, longe de tornar a evolução da fibromialgia mais fácil, piora o seu prognóstico. Um ajuste e uma adequação, em tempo útil, da actividade, pode contribuir decisivamente para uma melhoria do prognóstico.

* O Dr. Guzmán é especialista em Reumatologia, professor de Reumatologia na Faculdade de Medicina de Granada, secretário na Sociedade Andaluza de Reumatologia e secretário-geral na Sociedade Espanhola de Reumatologia. Entre vários outros cargos foi chefe do serviço de Reumatologia no Hospital Virgen da Las Nieves entre 1989 e 2013. Tem publicações e presenças em Congressos nacionais e internacionais, para além de ter sido co-investigador e investigador principal em mais de 20 ensaios clínicos e projectos de investigação.




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